Como reduzir o arsénio no arroz?
- Rita e Marta Com a comida não se brinca
- 9 de jul.
- 3 min de leitura
O arsénio, especialmente na sua forma inorgânica, é uma substância tóxica que tem sido associada a problemas de saúde sérios, incluindo cancro, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e efeitos negativos no desenvolvimento infantil. A exposição deve ser minimizada tanto em adultos como em bebés e crianças.
E porque é que o arroz está tão associado ao arsénio?
O arroz tem uma particularidade que o torna mais suscetível à acumulação de arsénio: cresce em ambientes alagados, como campos inundados, o que facilita a absorção deste contaminante presente nos solos e nas águas. Com o agravamento da poluição ambiental e as alterações climáticas, a concentração de arsénio em culturas como o arroz tende a aumentar.
O que diz a legislação?
Em resposta a estas preocupações, a Comissão Europeia atualizou os teores máximos permitidos de arsénio inorgânico em determinados alimentos, com especial foco em produtos infantis, como papas para bebés. Esta medida entrou em vigor a 3 de março de 2023, sendo agora obrigatória para todos os Estados-Membros e operadores do setor alimentar garantir o cumprimento dos novos limites.
Como reduzir a exposição ao arsénio em casa?
Apesar das regulamentações, há estratégias simples e eficazes que podem ser adotadas no dia a dia para diminuir a exposição ao arsénio através da alimentação:
1. Preferir arroz branco
O arsénio acumula-se principalmente nas camadas externas do grão. O arroz branco, por ter essas camadas removidas durante o processamento, contém menos arsénio do que o arroz integral. Embora o arroz integral tenha vantagens nutricionais noutros contextos, quando se trata da exposição ao arsénio, o branco é a opção mais segura, especialmente para bebés e crianças pequenas.
2. Lavar bem o arroz antes de cozinhar
Estudos demonstram que lavar o arroz várias vezes até a água ficar limpa, e até deixá-lo de molho durante algumas horas, pode reduzir significativamente os níveis de arsénio. Uma investigação no Reino Unido mostrou que o método “parboil and discard” (ferver e descartar a água) reduz o arsénio até 73%.
Como fazer:

3. Evitar consumo diário de papas de arroz
Embora práticos, produtos à base de arroz como papas infantis, bolachas e snacks não devem ser oferecidos diariamente. Mesmo nas papas com "vários cereais", o arroz está muitas vezes presente — prefira aquelas em que surge em menor proporção na lista de ingredientes.
4. Evitar bebida de arroz
A bebida de arroz é um dos produtos com maior teor de arsénio por dose, e não é segura para bebés e crianças pequenas. As autoridades de saúde, incluindo a European Food Safety Authority (EFSA), recomendam evitar totalmente esta bebida pelo menos até aos 5 anos de idade.
5. Variar os cereais e fontes de hidratos de carbono
Mais do que eliminar o arroz da alimentação, o importante é variar as fontes de energia: cereais como aveia, milho, centeio, trigo-sarraceno, quinoa, painço, bem como batata, batata-doce e mandioca, são excelentes alternativas que ajudam a reduzir a exposição acumulada ao arsénio.
Conclusão
O arroz pode, e deve, continuar a fazer parte de uma alimentação equilibrada. É um alimento nutritivo, económico e versátil, mas merece atenção especial quando falamos de bebés e crianças. Com pequenos gestos como escolher arroz branco, variar os cereais e seguir boas práticas de preparação, é possível minimizar a exposição ao arsénio sem abdicar deste alimento tão presente na nossa cultura alimentar.
Referências
Manoj Menon, Wanrong Dong, Xumin Chen, Joseph Hufton, Edward J. Rhodes, Improved rice cooking approach to maximise arsenic removal while preserving nutrient elements, Science of The Total Environment, Volume 755, Part 2, 2021, 143341,ISSN 0048-9697, https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2020.143341.
Atiaga, O., Nunes, L.M., Otero, X.L., 2020. Effect of cooking on arsenic concentration in rice. Environ. Sci. Pollut. Res. 27, 10757–10765. https://doi.org/10.1007/s11356-019- 07552-2.
EFSA, 2014. Dietary exposure to inorganic arsenic in the European population. EFSA J. 12. https://doi.org/10.2903/j.efsa.2014.3597
Regulamento (EU) 2023/465 da Comissão, de 3 de março de 2023.
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